A Morte que todos temiam
No centro da vila, erguia-se uma praça onde as crianças brincavam e os adultos se reuniam para conversar. Ali, num banco de madeira gasto pelo tempo, sentava-se todas as manhãs um velho sábio chamado Elias. Ele observava a vida que fluía ao seu redor e ponderava sobre a finitude de tudo.
Um dia, a notícia da chegada da Morte ao vilarejo ecoou através das ruas. O desespero se espalhou rapidamente, e as pessoas começaram a se perguntar quando seria a hora de enfrentar seu destino final. A Morte não discriminava ninguém e não demoraria a chegar.
Enquanto todos lamentavam, Elias permanecia calmo. Ele era o único que sabia que chegara o momento de confrontar a entidade que todos temiam. Decidiu então empreender uma jornada para encontrá-la e entender seu propósito.
Elias partiu em uma madrugada silenciosa, caminhando pelos caminhos desconhecidos da floresta. Cada passo o aproximava mais da Morte. No entanto, ele não sentia medo. Para ele, a Morte era apenas uma transição, uma passagem inevitável.
Após dias de caminhada, Elias finalmente avistou uma figura sombria ao longe, vestida com um manto negro e segurando uma foice reluzente. Era a Morte. Sem temor, o sábio se aproximou e falou:
– Querida Morte, vim até você em busca de respostas. O que és tu e qual o propósito de tua existência?
A Morte olhou para Elias, surpresa por ser questionada dessa forma. Normalmente, as pessoas a temiam e imploravam por mais tempo de vida. Ela respondeu com sua voz grave e cavernosa:
– Sou a Morte, a inevitável transição de todos os seres vivos. Meu propósito é garantir a continuidade da vida, equilibrando a balança entre o nascer e o morrer.
Elias refletiu por um momento e perguntou:
– Mas por que deves ser temida? Por que as pessoas te veem como uma inimiga?
A Morte, surpresa novamente, respondeu com sinceridade:
– Sou temida pois represento o desconhecido, o fim de tudo o que é conhecido. As pessoas têm medo do que não conseguem controlar ou compreender. Querem a segurança do tempo, mas eu sou o lembrete implacável de que o tempo é limitado.
Elias compreendeu a fala da Morte e agradeceu por sua honestidade. Ele retornou ao vilarejo e compartilhou o conhecimento adquirido com todos.
As pessoas, inicialmente desconfiadas, começaram a refletir sobre suas vidas e a apreciar cada momento. Elas perceberam que, ao invés de temer a Morte, deveriam abraçar a vida e viver cada dia intensamente.
O vilarejo se transformou. As pessoas se tornaram mais amorosas, mais solidárias. Abraçaram seus entes queridos com mais força e expressaram seu afeto com palavras doces. A Morte, que antes era temida, passou a ser encarada como um lembrete precioso da efemeridade da vida.
Com o tempo, as pessoas perceberam que o verdadeiro legado que deixavam para trás eram as ações praticadas em vida: o amor espalhado, as amizades construídas, a bondade compartilhada. Elas compreenderam que a Morte era apenas o fim de uma fase, o começo de outra.
E assim, o vilarejo prosperou. A Morte continuou a fazer seu trabalho, mas agora era encarada com gratidão e respeito. Elias foi lembrado como o sábio que trouxera essa nova visão. E o povo, mesmo diante da inevitabilidade de seu destino, encontrou paz em viver cada dia como se fosse o último.
Dessa forma, a Morte deixou de ser um tema proibido e se tornou um lembrete constante da beleza efêmera da vida. O vilarejo, outrora sombrio, se transformou em um lugar de esperança e amor, onde as pessoas honravam a existência de cada ser e valorizavam cada momento.