Manias & Narrativas
Sombra
A sombra de seus próprios pensamentos seguia-o como um lobo faminto, sempre à espreita. Davi tinha um sorriso gentil, olhos que refletiam a luz das estrelas e uma voz suave como um sussurro de primavera. As pessoas ao seu redor viam nele um amigo leal, mas dentro de sua mente, um redemoinho turbulento se formava, cheio de imagens sombrias e impulsos que ele nunca escolheria dar vida.
Desde jovem, Davi sentia a presença dessa força obscura: uma obsessão silenciosa que sussurrava em seu ouvido, instigando-o a imaginar cenários de agressão e violência. Não eram desejos concretos, mas sim uma cacofonia de dúvidas e medos. Ele temia o que poderia acontecer se soltasse as rédeas de sua própria mente. Era como estar preso em uma caverna escura, sem conseguir ver a saída, enquanto ecos de gritos distantes ecoavam descontroladamente entre suas paredes.
Em suas noites solitárias, Davi se embarcava em um ritual de resistência, um duelo interno constante. Quando os pensamentos violentos surgiam, ele se lançava em atividades que o ancoravam à realidade: corria até que suas pernas queimassem, pintava paisagens vibrantes que barganhavam pela leveza da sua alma ou escrevia histórias de heróis que enfrentavam monstros, usando a tinta como uma espada em sua batalha contra os demônios invisíveis. Cada traço dado em um canvas, cada gota de suor que escorria por seu rosto, era um ato de rebeldia contra a escuridão que tentava dominá-lo.
Davi sabia que o dilema que enfrentava não era apenas sobre si mesmo, mas também sobre a forma como via o mundo. Ele vivia em constante vigilância, nuvens de incerteza pairando sobre seus relacionamentos. Sua luta se tornava uma dança delicada, onde cada interação era uma prova de que a bondade poderia triunfar sobre a brutalidade que se escondia em seu íntimo. Entre sorrisos e olhares cúmplices, Davi se esforçava para ser mais do que a soma de seus medos.
No final do dia, ao se olhar no espelho, ele frequentemente se perguntava: “Quem sou eu, realmente?” E cada vez que a resposta vinha, era em forma de um sussurro suave, lembrando-o de que, embora as sombras fossem densas, a luz que ele escolhera cultivar era ainda mais forte. A luta travada dentro dele se tornava, então, não apenas a batalha contra a obsessão de agressão, mas também o testemunho de uma alma que se recusava a sucumbir, sempre buscando caminhos de amor e compreensão em um mundo que, frequentemente, parecia estar à beira da violência.
Hiperssexista
Não era possível negar que o amor estava em sua vida. O amor por sexo, sendo mais exato. Esta condição marcava, com ferro e fogo, vamos dizer que literalmente falando, a preocupação excessiva que ele tinha com sexo. Vinha em manifestações que poderiam se enquadrar facilmente em comportamentos compulsivos, como masturbação excessiva, promiscuidade, e ainda uma busca constante de novas experiências sexuais. Isso era ele e como seu comportamento sexual parecia estar fora de controle, foi inevitável a inundação sobre outras áreas de suas vidas, como no trabalho e nos relacionamentos. “Você só pensa nisso”, talvez fosse a frase mais usada na sua direção, algumas vezes vindo de mulheres que eram comprometidas e respeitáveis, mas que sabiam do desvio comportamental que ele apresentava. Isso ficava evidente principamente porque elas eram funcionárias dele e porque souberam que ele havia investido sobre cada uma delas com aquele velho papo furado. Mas, a decisão delas foi proativa. Descobriram que ele era um hiperssexista que tinha hipersexualidade numa forma de dependência, semelhante a outras dependências comportamentais, como a dependência de substâncias, e isso causava comportamentos inadequados que eram, na realidade, só uma maneira de lidar com o estresse ou com emoções negativas. Então, certo manhã, elas esperaram o chefe chegar e o agarraram de surpresa, conseguindo amarrá-lo. Cena bizarra, sem dúvida, mas necessária. As funcionárias vítimas de um hiperssexista, que agora iam dar-lhe o troco. Será que estavam pensando em castrá-lo? Foi o que ele pensou que ia acontecer e se ajoelhou e implorou por misericórdia. Pedido infrutífero, pois elas decidiram colocar nele uma camisa de força e levá-lo para o sanatório. A extrema feminista tinha levado a coisa muito a sério. O chefe precisava de ajuda e o quanto antes. Já não aguentavam mais o tremendo assédio que, de tão irracional, fora preciso uma intervenção extrema. A firma estava em boas mãos. Mas o chefe também, pois a clínica de saúde mental era conceituada e ele próprio poderia pagar compulsoriamente. Foi isso que suas funcionárias acharam.
Devotado
Onde ele vai parar, era uma pergunta recorrente nas redondezas. É que ele era muito conhecido no bairro, pois trabalhava na segurança de várias casas, e estava imbuído em escapar da maldição. Na realidade, ele possuía medos relacionados à espiritualidade, como a preocupação excessiva com a salvação, e estava a todo instante fazendo revisão de seus comportamentos com o objetivo de evitar pecados. Sua mente trabalhava veloz e uma lista de pontos eram revisados em curtíssimo espaço de tempo. Tempo mental, algo que talvez nem fosse possível se medir. Mas isto é só uma observação, detalhe que não tem importância. O mais relevante mesmo era a sua devoção ao sagrado. Não que ele não vivesse o profano, mas olhando mais de perto seu comportamento, era possível afirmar que ele temia pecar e não ser salvo. A fé que lhe movia transitava na estrada do medo. Seu pecado maior talvez fosse sua preocupação exagerada e constante acerca de suas ações, por menores que fossem, vinham com uma carga paranoica, em que o temor do pecado tinha relevância acentuada. A máscara do temor, no entanto, não era externa, mas sim assustava ele mesmo, com severas sentenças de punição. A pior que ele considerava era a proibição de entrar no portal da vida eterna. Sua fé tinha o caráter punitivo por excelência, sendo assim, o temor tendia a crescer se algum ato seu não fosse correto, segundo sua autoavaliação. Sua devoção tinha, portanto, um “q” de obsessiva, pois a perseguição do pecado era muito palpável. Estava sempre aguilhoado por ideias persecutórias que vinham a cada ato seu que talvez nem fosse pecaminoso, porém aos seus olhos, era. A salvação de sua alma estava na dependência de suas ações, que eram boas no fim das contas. Ele era querido pelas pessoas e respeitado. Não tinha medo de bandido, mas de si mesmo, daquilo que poderia moldar cada ato seu no mundo em desacordo com as coisas de sua fé. Não se considerava doente, mas resignado a encarar seus próprios desafios. Acreditava nisso, vinha lá de cima. Ele era também um líder religioso, ou se considerava assim. Só precisava encontrar equilíbrio nos seus medos. A redenção iria chegar para ele com toda a certeza. Sua fé estava em alta.
Padrão alto
Posso assegurar que se tratava de um caso que envolvia uma preocupação extrema em alcançar padrões elevados de excelência. Não era difícil imaginar a consequência dessa mania que fazia dele um sujeito que vivia com adiamentos, acumulando, com isso, frustrações constantes. Isso era relativamente comum, malgrado as formações de reação que, em algumas personalidades, eram acentuadas. Pessoas sob essa forma maníaca de lidar com as situações travavam em muitas coisas. Na realidade, ele estava experimentando problemas de autoconhecimento ao não reconhecer e confrontar seus próprios sentimentos. O círculo foi se formando e cresceram nele dificuldades em entender suas próprias emoções e necessidades. Resultado? Seu crescimento pessoal ficou comprometido. Ele não queria ser tão perfeccionista – o custo era alto sabia-o bem -, mas a autocrítica entrava em ação, forjando nele uma formação de reação, prejudicando diretamente seu autoconhecimento. Suas emoções pareciam ariscas lhe escapando a todo instante. Suas necessidades ele também parecia não ter acesso, estava como que caminhando sem os faróis acesos. A protelação tomava-lhe sem piedade e assim foi até o dia em que o sentimento de frustração trocou de lugar pela alegria de ser convidado a sair de si e olhar para si. (Isso é possível?), ele se perguntou de imediato, e a resposta chegou-lhe a jato com a sensação de que havia ido longe demais com tanto prejuízo e perda de tempo. Mas isso foi só o começo; melhor, um recomeço. Ele procurou ajuda, levando a sua vulnerabilidade aos píncaros, mas intuía que era a única forma de seguir sem tropicar tanto. Não havia razão de querer alcançar um padrão alto de perfeição se mal conseguia lidar com suas emoções e necessidades pessoais. Foi assim que seu mundo parou por um instante, e um clique acendeu o alerta vermelho. Tinha quase passado da hora de se cuidar. A saúde mental agora havia entrado no seu radar e ele foi atrás da sua cura.
Cupidez
Querer demais era ruim, mas não para todo mundo. Havia aqueles que desejavam ardentemente mais e mais, muito e muito. Chamavam isso de cobiça, mas ele contestava: “cobiça, não; é tudo que eu quero”. Todo cuidado era pouco com o seu querer; não havia limites para o seu querer, e não dava para ir na sua ladainha de que “é tudo que eu quero”, como a dizer que se tratava de um desejo puro simplesmente, do tipo que está quentinho no coração e sem violação de qualquer outro querer. Mas não era assim. Quem o conhecia sabia que ali naquele coração havia um saco de desejos que o compelia à ganância irremediável. Fora assim desde sua infância, quando ele só parava de pedir algum brinquedo quando seu pai o comprava, mesmo com toda a dificuldade de dinheiro pela qual a família passava. Cresceu e jovem já estava de olho nas oportunidades que antevia colher benefícios próprios, e isso se tornou evidente quando ele identificou que uma nova tecnologia blockchain estava se tornando popular e sem demora correu para investir em algumas startups beneficiadas com a nova tecnologia, isso antes que a notícia se espalhasse, fazendo o valor das ações subirem. Fora mais um sinal de esperteza do que ambição desmedida, no entanto no seu interior a gramática da avidez lhe mostrava certos mapas que prometiam levar a tesouros indissolúveis. Então entrava a matemática em substituição momentânea à sua gramática da ansiedade por riqueza, tornando então a coisa mais simplificada e objetiva. Podia rapidamente fazer contas e prever ganhos a curto prazo até, como aconteceu com seu investimento em blockchain. Tudo em nome de uma suposta ganância obsessiva. Suposta porque aos olhos alheios não era perceptível que ele tivesse tal obsessão por assim dizer, contudo no fundo ele mal continha o impulso por querer mais e mais, muito e muito. Não que estivesse errado em querer, mas se houvesse meio termo nessa história, ele sofreria menos talvez. Talvez porque é mera possibilidade, já que ele se tornou um mega-empreendedor em criptomoedas. Bendita ganância, não?
Saltos felinos
Pulo do gato representou um salto fora dele. Um salto para a aventura de tentar explicar a quase obsessão frente a contumácia de uma ação repetitiva. Ele estava medindo a carga de um sistema operacional em funcionamento, mas não conseguia parar de ver em sequência os valores dessa carga, chegando às raias de puxar seu cabelo com tanta força que uns bons fios de cabelo saíram de sua cabeça. Sim, ele tinha consciência dessa quase obsessão – cujo termo estava sendo cunhado por ele mesmo , contudo não chegava a lugar algum porque o ato de medir, por meio de um comando, lhe roubava a capacidade de interromper esse ciclo obsessivo. O impulso lhe dominava a mente, pondo para correr qualquer freio mental que pudesse emergir do pensamento e do raciocínio. Sua consciência estava em perigo, ele pressentiu. Mas conseguiu parar por um instante para beber um gole de café. Isso o mantinha acordado e já fazia mais de um dia e meio que ele nem mesmo havia parado para cochilar. Agora, no entanto, o sono bateu mais forte e ele derramou o café frio da xícara sobre sua calça. Adormeceu ali mesmo na cadeira, com a xicará segura pelo fura-bolo. Ao acordar, viu que havia conseguido ficar longe daquele ato de obsessão pelo menos enquanto dormiu. Segurou agora o impulso de medir a carga computacional do grande sistema que acomodava servidores gigantescos. Ali, naquela sala a meia luz, iluminada somente pelas grandes telas de dados, ele compreendeu que não fazia sentido tornar mecânico algo dinâmico e fora do escopo de sua função. Foi um instante de pura lucidez intuitiva pela qual compreendeu o que estava acontecendo com ele. Não que ele estivesse certo, longe disso, mas era uma intuição que lhe trouxe de volta à realidade dos fatos, objetivamente falando. Parou, respirou fundo, levantou-se da cadeira, e foi até a janela, de onde mirou a rua movimentada da cidade grande. Sorriu ao ver que a chuva começava a cair devagar. A cidade estava precisando. Era um bom momento para meditar sobre sua insípida obsessão. A culpada era a responsabilidade, pois ele precisava coletar dados que realmente fossem próximos à realidade. Era o seu trabalho e a sua responsabilidade que vinham primeiro, sendo assim ele precisou buscar ajuda na terapia. Não se sabe se está tendo sucesso, mas, ao menos, ele rompeu o preconceito de não querer se mostrar vulnerável a um terapeuta. Tem esperança de se curar da obsessão que lhe trouxe a tarefa da medição. E a esperança é a última que morre.
Tara por pés
Aqueles terríveis pensamentos estavam de volta em plena manhã ensolarada. Era uma tremenda contradição aceitá-los frente a um dia magnífico, por isso sua reação foi correr até o banheiro e lavar seus pés. Pegou uma bacia de alumínio, abriu o chuveiro e a encheu até um pouco mais que a metade e colocou seus pés na água morna. Era a sua defesa pessoal contra ataques de pensamentos que o puxavam para baixo (e pelos pés). Era uma sensação única que lhe custava se perder por instantes sob a astúcia de palavras pecaminosas, algumas odiosas, que lhe ferviam o sangue em picos de desespero íntimo. Sabia controlar-se, no entanto. Mesmo assim, somente com um escalda-pés, ele conseguia amenizar esse aguilhão psíquico que, no frigir dos ovos, parecia ter tara por seus pés. Mas eles nem bonitos eram, com dedos tortos e unhas grossas, solas retas, enfim, nada de atraente poderia ser encontrada neles. Se havia alguma coisa de feio nele, eram os pés. Assim, depois do escalda-pés, seu humor melhorou, apareceu-lhe um sorriso, e ele entrou no banho assobiando uma melodia qualquer. Sabia que precisava encontrar um meio termo para seus pensamentos negativos, já que era um professor e precisava demonstrar positivismo e esperança para que seus alunos viessem a ter uma experiência positiva no seu aprendizado. Era responsável e gostava do que fazia, porque o fazia bem, sua autocrítica era feroz porém sincera, sem rodeios. Pensamentos ruins não eram incomuns, ele o sabia, todo mundo tinha, alguns até se deixavam levar por eles e cometiam atrocidades e barbaridades de todo jaez. O mundo ficava pequeno diante de tanta maldade e tudo começava ali, naquela cachola, nas caraminholas. Precisava cuidar das suas sob pena de sucumbir e se tornar um desvairado. Não podia vacilar senão seus pés eram abocanhados pelo desgraçado que se assanhava a todo instante com as mais insalubres ideias. Crescer em meio a isso não era fácil, tinha que ser astuto também. Astuto do bem, ele gostava de frisar, mas ficava esperto para não se deixar levar por convites predatórios que poderiam levá-lo à bancarrota. Pensamentos daninhos pareciam pulular de sua uara astral, na verdade, pensamentos obsessivos que teimavam com sua astúcia do mal. O ringue continental disso era a sua cabeça. Uma cabeça de vento tempestuoso que chovia ácido sulfúrico. Era assim que tentava explicar sua sensação contra a qual se punha vigilante e corajoso. Era assim que ele levantava seu escudo e contra-atacava. foi assim que ele ganhou a guerra no final das contas.
Mãos limpas
Se havia uma coisa que lhe incomodava era se deparar com algum bichinho passeando na mesa da cozinha, ou, indo mais longe, em qualquer lugar da casa onde viviam ele e sua irmã. Não haviam se casado e, depois do passamento dos pais em acidente aéreo, restara ao casal de filhos, seguir em frente e dar a volta por cima. Mas o problema era que eles tinham uma espécie de obsessão de contaminação, razão pela qual viviam, um e outro, com um terrível medo de germes e sujeira, levando-os à exaustão devido à compulsão por limpeza e higienização excessiva. Um alimentava a obsessão do outro por assim dizer, uma vez que passavam o dia lavando as mãos, rosto, pernas, braços, ao menor sinal de algum inseto pousando em algum canto da casa. Um tio os visitava e sabia da compulsão deles por limpeza, mas não conseguia entender por que eles desenvolveram o problema – e que problema! exclamava o tio para si próprio – já que isso os impedia de continuar a viver uma vida normal, depois da tragédia que se abateu na família. E isso tudo forçou o tio a trazer uma psicóloga para atender os sobrinhos na própria casa deles, algo que não transcorreu assim tão tranquilamente, uma vez que ambos se recusavam a admitir que tinham obsessão por limpeza. Mas quis o destino trazer um novo alento ao casal obsediado. Uma chuva de granizo despencou no dia da visita da psicóloga e inundou a casa onde os irmãos moravam, impedindo que ela conseguisse chegar até a casa deles. Na realidade, a chuva foi uma “bênção” para eles que, de tanta água entrando na casa, se recolheram ao terraço e ali permanceram até a chuva amainar. O temor de ver a sua casa invadida pelo aguaceiro acabou ocupando o coração deles, e, depois desse fato, deixaram a obsessão de limpeza de lado. O trauma foi o acúmulo de água, que, além da enchente provocada, chegou trazendo a cura dos irmãos, pois ambos viram o tremendo estrago que a água era capaz de fazer. O pavor passado por eles havia então sido positivo no aspecto de superação da obsessão de contaminação. Difícil de acreditar? Qual nada, a vida era uma caixinha de surpresas que se provava a cada caso.
Dúvidas a fio
Se fosse enumerar a tamanha doidera que lhe sobressaía, ia precisar de um bom exercício de memória. Mas o que se sabe é que ele tinha dúvidas obsessivas como se trancou a porta, se apagou o fogão ou se cometeu um erro em uma tarefa. A doidera se desenhava nas formas bizarras de verificação de decisões cotidianas que o obsediavam à larga. Mas não havia consciência plena do fato, uma vez que o movimento impulsivo trazia matéria inconsciente, que foi se formando com o acúmulo e tempo de repetições. Ele pensou que o homem era um animal de repetições, e só seguia em frente depois de checar cada decisão fosse ela dar uma bisolhada no portão para ver se estava fechado direito (já havia acontecido algumas vezes de o portão estar meio fechado), ou fosse por checar seu email pela trilionésima vez e não se dar por satisfeito. Mas nada tinha de cômico nisso, já que custava bastante sofrimento da sua parte. Recorrer a ações repetitivas era cansativo, algo que com o tempo causava desgaste físico. Seu psíquico tinha se habituado a duvidar de suas ações e decisões cotidianas que ele nem dava muita bola para isso. Já fazia parte da matéria inconsciente. A doidera da recorrência tinha tomado corpo a ponto de lhe consumir a energia para uma série de coisas. Ele não era só um animal de repetições, mas um ser vivo com potencial de criar bons hábitos, saudáveis e menos desgastantes. Mas, para isso, precisava se tratar. Procurou um amigo e contou-lhe sua jornada obsessiva. O amigo o ouviu com incredulidade paciente, abrindo um sorriso amarelado na busca da empatia que o deixara faz tempo. Ficaram juntos por pelo menos uma hora, e o amigo marcou uma consulta com uma especialista em EPR, que na realidade é a sigla para Exposição e Prevenção de Resposta. Três dias depois, lá estava ele com a Dra. Simone que lhe explicou que o método da EPR consistia na exposição gradual do indivíduo às situações que desencadeiam suas obsessões, enquanto se impede a resposta compulsiva. Ele fez algumas sessões e conseguiu uma sensível melhora no quadro de suas obsessões de dúvidas. Aprendeu a acionar o gatilho consciente e interromper o impulso inconsciente. A doidera da repetição estaria dominada enfim.